Catota
- Olha-me só este burrié!
- Burrié?
- Sim, um macaco.
- Não sabia que um burrié é uma catota.
- Uma quê?
- Catota.
- Uma catota é uma cagaita?
- Sim, é uma carranha.
- Carranha?
- Uma catota é uma carranha.
- Carranha é igual a catota?
- Igualzinha.
- Não me parece.
- Porquê?
- A fonética das palavras diz-me que a carranha consiste numa secreção encarquilhada, retesada e enegrecida, alapada há demasiado tempo nas paredes nasais. A catota é uma excrescência catita, gumosa, aveludada, plástica, vestida com joviais tons de verde ainda claro.
- Deixemo-nos de elucubrações.
- Deixa-me elucubrar.
- Não elucubres.
- Elucubrarei se quiser.
- Elucubra então sobre isto: limpa-me essa monca!
- Tenho outra catota?
- Não, tens uma monca.
- Monca?
- Ranho. Langonha. Magma nasal. A catota é uma rino-estalactite.
- Já viste que certas catotas habitam no interior da ranhola?
- São arrendatárias da monca.
- Passageiras do autocarro mucoso.
- A catota mais não é do que uma monca fossilizada…
- Estás armado em ranhólogo?
- Com especialização em moncologia.
- Já que sabes muito sobre o tema, diz-me lá como é que se chama aquele fluxo transparente meio aguado que jorra das fossas nasais?
- O termo académico usado para definir essa substância é pinga-pinga.
- Não há um nome mais eloquente?
- Não é muito comum ouvir, mas há quem lhe chame fonfosa. Nunca ouviste dizer “estas alergias deixam-me cheio de fonfosas”?
- Inventaste essa agora, não foi?
- Sim.
- Gosto de fonfosa. E de butureca também.
- Pinga-pinga é uma fonfosa e esta é uma butureca.
- Logo...
- Butureta significa pinga-pinga.
FPC