Dúvidas
Os sábios também têm dúvidas. Permito-me por isso partilhar alguns dos mistérios que, a meu ver, desafiam os limites do conhecimento acessível à espécie humana. Estamos a falar de questões filosóficas primordiais, cujo mistério que encerram apunhala bem fundo o espírito humano. Há quem se entretenha a explorar puerilmente a possibilidade da vida em Marte ou a estudar as formas de combater o aquecimento global. A esses lunáticos eu pergunto: se já nos damos tão mal uns com os outros aqui na terra para quê irmos arranjar problemas também com os ET’s? E qual é o drama se a temperatura aumentar? Usarmos menos cachecóis?! Bebermos mais cerveja?! Deixemo-nos de brincadeiras e foquemo-nos nas questões que, de facto, sangram ontologicamente a humanidade. Com esse intuito, proponho-me começar por enunciar o conjunto das chamadas Grandes Perguntas.
Comecemos pelas dúvidas gastronómico-vinícolas:
. Porque é que a pata da vaca passa a ser denominada mão de vaca depois de ser cozinhada?
. Porque é que um copo de vinho se chama vinho a copo nos restaurantes finos e taça de vinho nas tascas? Não devia ser ao contrário?
. Já agora, o que é um vinho elegante? E um vinho com personalidade?
. Quem foi o javardo que se lembrou de introduzir queijo filadélfia no sushi?
. Como é possível que tantos javardos apreciem esta javardice?
. Porque é que algumas pessoas dizem pitza em vez de pizza?
. Qual é o prato que tem o nome mais glorioso (o meu voto vai para a chanfana, embora pipis também seja muito forte)?
Atentemos agora nas interrogações conviviais:
. Deve-se ou não agradecer quando um automobilista nos deixa passar na passadeira?
. Quando não se tem moedas para dar de gorjeta a um empregado de mesa que nos atendeu impecavelmente, deve-se explicar ao abnegado trabalhador a situação ou é melhor sair de forma pusilânime do restaurante sem ele dar por isso, evitando assim o seu olhar desiludido ou acusador?
. Quando uma gaja que está a falar contigo tapa o decote, é ou não muito provável que o tenha feito por achar que lhe estavas a olhar para as mamas?
. Caso estejas inocente (uma hipótese que é em regra muitíssimo remota), deves ou não protestar com a injusta interlocutora?
Perguntas médico-higiénicas:
. Quando se tem ao mesmo tempo soltura intestinal e vontade de vomitar, qual das excrescências tem prioridade em ser devidamente acomodada na sanita – sendo que a outra torrente teria de ir para o chão (nesta casa de banho não há pia nem banheira, e o lavatório está demasiado afastado)?
. No caso de haver uma banheira, seria melhor derramar tudo ao mesmo tempo no seu interior?
. As pessoas que andam na rua com a boca tapada com máscaras fazem-no porque são portadoras de doenças transmissíveis através da respiração ou fazem-no para evitar serem contagiadas pelas doenças das outras pessoas (sim, na China é por causa da poluição. Mas em Portugal o que está verdadeiramente poluído é a atmosfera política. Por isso não vale a pena puxarem da cartada ambientalista)?
Por último, as perguntas jurídico-institucionais:
. Além de mandar falar e calar a criançada, qual é exactamente a função do presidente da assembleia da república?
. Porque é que ainda não foram colocados snipers no parlamento com a incumbência de abater os deputados que, no final das intervenções dos seus camaradas, ladram, delirantes, o estribilho “muito bem, muito bem, muito bem”?
. O que é os códigos jurídicos entendem exactamente por pessoa colectiva? Será que se referem às rameiras?
. Porque é que ainda não é possível dar o nome de Chanfana aos nascituros (ainda por cima é um nome unissexo, dá para o menino e para a menina)?
Estas são as dúvidas. Urge agora, de forma metódica e pressurosa, encontrar as respostas.
FPC